quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Mito e Religião

É preciso haver um esclarecimento acerca da diferença entre mito e religião. Hoje, todas as mitologias de todos os povos são entendidas como um conjunto de crenças enraizadas em relatos modernamente tidos como fictícios e imaginados pelos poetas, enquanto a religião propõe-se a criar rituais ou práticas com a finalidade de estabelecer vínculos com a espiritualidade. "Mitologia" é um termo indiscutivelmente técnico e moderno e nunca utilizado pelos próprios gregos ou romanos. Seus cultos compreendiam uma religião politeísta da qual os especialistas de hoje agrupam no que se chama "mitologia grega", analisando as narrativas poéticas como legados da literatura antiga, ao passo que os próprios gregos, sobretudo antes da fama da filosofia, acreditavam serem reais. Pode-se dizer que "mito" é todo o conjunto que nós compreendemos hoje o que em suas épocas os gregos chamavam "religião".
Para ficar mais claro, podemos dizer que os textos sacros dos gregos são o que chamamos agora de mitologia ou literatura da Grécia antiga. A Teogonia e Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo, a Ilíada e a Odisséia de Homero e as Odes de Píndaro estão entre as obras que os gregos consideravam sacros. Estes são os principais textos que foram considerados inspirados pelos deuses e geralmente incluem no prólogo uma invocação às Musas para que elas auxiliem o trabalho do poeta.
Os gregos faziam cultos os deuses do Olimpo, realizados em templos comuns ou em altares e, também, culto aos heróis históricos, realizados em suas respectivas tumbas. Dedicados a um deus ou a um herói, os templos, decorados com esculturas (de deuses ou heróis) em relevo entre o teto e o topo das colunas, eram constituídos de pedras nobres como o mármore, usadas no alto da acrópole.  Os antigos teatros gregos, também, eram construídos para determinada figura mitológica, deuses ou heróis, como o teatro de Dioniso no Santuário de Apolo em Delfos.
Além de a religião ter sido praticada através de festivais, nela se acreditava que os deuses interferiam diretamente nos assuntos humanos e que era necessário acalmá-los por meio de sacrifícios. Estes rituais de sacrifício desempenharam um papel importante na formação da relação entre o homem e o divino.  Um dos conceitos mais importantes quanto à moral para os gregos era o medo de cometer húbris (arrogância), o que constitui muitas coisas, do estupro à profanação de um cadáver.

O rei das bacanais

Dioniso era um dos mais festejados deuses gregos. Simbolizava o desejo incontrolável, a irregularidade, o êxtase e a fertilidade. Todos os anos, os gregos se reuniam em festas em sua honra. No mais importante evento dedicado ao deus, as celebrações duram seis dias e incluíam canções, vinho, procissões, danças, hinos, encenações. E mais vinho. Em comemoração ao deus, homens e mulheres bebiam até sair de si e se estatelar no chão. O porre era tido como um mergulho do deus Dioniso em seu adorador. Era um carnaval e tanto. Só no festival de 404 a.C. compareceram mais de 14 mil atenienses. Organizavam-se animados cortejos com pênis gigantes e orgias eram promovidas. Animais era sacrificados e realizavam-se competições para ver quem tomava três litros de vinho mais rapidamente. Os últimos dois dias eram reservados para a apresentação de peças de teatro, que começavam pela manhã e acabavam no meio da tarde.
Quase sempre, o deus era representado nos campos junto com uma turma da pesada. Os sátiros eram seres animalescos que representavam as forças da natureza, paixões e emoções e sempre apareciam com o pênis ereto. Havia também as bacantes, entidades femininas de cabelos soltos e flores no cabelo; os centauros, meio homem, meio cavalo, adoravam ficar bêbados e Pã, que, com pernas de bode e sua flauta,assaltava sexualmente qualquer um que cruzasse sua frente.
Dioniso era tido como o inventor do vinho. Um dia, quando estava acompanhado dos sátiros, foi levado para dentro de uma gruta. Lá colheu alguns cachos de uva, espremeu as frutinhas em taças de ouro e bebeu o suco em companhia da sua corte. Embriagados, dançaram vertiginosamente até caírem no chão completamente fora de si.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fábrica de Homens

Um grego chamado Esopo, que viveu no século 6 a.C., contou várias histórias de deuses. Esse escritor, mais conhecido pelas fábulas de bichos que inspiraram o francês La Fontaine ( a da cigarra e da formiga é a mais notória), também se dedicou ao tema das divindades. Em três de suas fábulas, Zeus, com a ajuda do herói Prometeu e Hermes, fabrica os seres humanos. As três são engraçadíssimas, embora politicamente incorretas.
Na primeira delas, Zeus manda que Prometeu faça animais e homens. Porém, esse último errou na conta, e produziu mais bicho que gente. O jeito foi transformar o excedente em seres humanos. "Eis que há homens que de humano só têm a aparência, mas a alma é de animal", sentencia Esopo.
Em outra, Zeus pede a Hermes que dê inteligência aos homens que havia feito. O mensageiro, então, distribuiu o dom igualmente entre todos os mortais. Porém, aquilo que foi suficiente para os pequenos não bastou para os grandes. " Daí a inteligência destes ser bem inferior á daqueles", finaliza.
Na terceira fábula, Zeus termina de dar aos homens os seus apetrechos quando se dá conta de que se esqueceu de dar a eles o pudor. Sem saber onde colocá-lo, pediu que o Pudor entrasse por trás. Este não gostou nenhum pouco da ordem. Como Zeus insistiu, o coitado aceitou. Mas impôs uma condição: " Tudo bem, eu entro, mas desde que Eros não entre também, senão sairei logo". Por isso conclui Esopo, todos os devassos são despudorados.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Canção Profética Maia

Coma, coma, enquanto há pão,
Beba, beba, enquanto há água,
Um dia virá, quando o pó escurecer o ar,
Quando uma praga debilitá-rá o solo,
Quando uma nuvem surgirá,
Quando uma montanha se erguerá,
Quando um homem forte apoderar-se-á da cidade,
Quando a ruína cairá sobre todas as coisas,
Quando a tenra folha será destruída,
Quando os olhos se fecharão na morte;
Quando aparecerão três sinais numa árvore,
Pai, filho e neto pendurados mortos na mesma árvore, 
Quando a bandeira da batalha será içada,
E o povo se espalhará por dentro das florestas. 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mito e sociedade


A mitologia grega era assunto principal nas aprendizagens das crianças da Grécia Antiga, como meio de orientá-las no entendimento de fenômenos naturais e em outros acontecimentos que ocorriam sem o intermédio dos homens. Os gregos antigos atribuíam a cada fenômeno natural uma criatura ou um deus diferente. Certos estudiosos modernos dizem que, quando passaram a inventar meios de calcular o tempo e quando criaram mecanismos de datação como o calendário, seus mitos declinaram. Os poetas atribuíam esses estados térmicos, como também as relações e as características humanas, aos deuses e a outras histórias lendárias, e elas serviram durante um bom tempo como cultos ritualísticos na sociedade da Grécia antiga.
Mulher ajoelhada diante de um altar. Pintura vermelha em cerâmica, ca. 510-500 a.C. Antigo Museu Ágora de Atenas.
Além das crianças serem educadas através dos mitos, as famílias aristocráticas da Grécia, assim como os reis, e também profissionais, como os médicos, possuíam a tradição de se ligarem genealogicamente a antepassados míticos, geralmente divinos, ou até mesmo heroicos. Os comerciantes também cultuavam deuses, como Hermes, sempre em tentativa de deixá-lo satisfeito e assim conseguir bons resultados em suas vendas. Além de serem habituados aos sacrifícios de animais e às orações, os gregos antigos adotavam um deus particular ou um grupo deles para sua cidade, e os cidadãos construíam templos e o(s) venerava(m). Essas cidades não possuíam qualquer organização religiosa oficial, mas honravam os deuses em lugares determinados, como Apolo exclusivamente em Delfos.
Muitos festivais religiosos eram realizados na Grécia antiga. Alguns eram especificadamente dedicados a uma deidade particular ou cidade-estado. A Lupercalia, por exemplo, era comemorada na Arcádia e dedicada à pastoral Pã. Existiam também os jogos que eram realizados anualmente em locais diferentes, e que culminaram nos Jogos Olímpicos da Antiguidade, realizados a quatro anos e dedicados a Zeus. Os gregos, frequentemente, encontravam desígnios dos deuses em muitas características da natureza. Os adivinhos, por exemplo, acreditavam haver mensagens divinas contidas no vôo das aves e nos sonhos.  Nas cidades, os oráculos — locais sagrados — eram usados por um sacerdote que, tomado por êxtase ou loucura divina, servia de intermédio entre o diálogo de um fiel e seu deus de adoração.
Nas primeiras eras em que a recente filosofia vivia ao lado da tradicional mitologia, para o povo grego a sabedoria plena e completa pertencia aos deuses, mas os homens poderiam desejá-la e amá-la, tornando-se filósofos (philo= amizade, amor fraterno, respeito; sophia=sabedoria).

domingo, 18 de setembro de 2011

O universo numa casca de ovo

Os homens sempre tiveram uma história para explicar a origem do universo. Na bíblia, Deus criou o céu, a terra, a luz, as plantas, as árvores, as baleias, os animais domésticos e o homem. Tudo em apenas seis dias. Para os cientistas contemporâneos, a origem foi uma explosão enorme, o Big Bang. Os gregos antigos, a seu modo, também tentaram explicar o começo de tudo. E criaram meia dúzia de histórias repletas de personagens para a ilustrar a situação.
Uma das mais belas versões da mitologia grega começa com a deusa Nyx, a Noite, um pássaro de asas negras que concebeu do vento e botou um ovo de prata no colo gigantesco da Escuridão. De dentro da casca, saltou um deus de asas de ouro. Tratava-se de Eros, o deus do amor. O ovo dividiu-se em duas partes: o Céu e  Terra. Para os gregos, essas duas entidades eram representadas pelos deuses Urano (o Céu) e Gaia (a Terra). Com o amor nas proximidades, os dois se acasalaram e deram origem a diversos seres. Entre eles estava Cronos, o deus do tempo.
Cronos (cronômetro, cronologia, etc.) tinha um problema sério: ele não consegui abandonar o interior de sua mãe. Por absoluta falta do que fazer, seu pai, Urano, não saía de cima dela. Só pensava naquilo! Céu e Terra ficavam grudados um no outro. Por isso, todos os filhos que ele concebia (Cronos incluído) ficavam no ventre de Gaia, que começou a não gostar da situação. Ela bola um plano e entrega ao filho Cronos uma pequena foice. Quando Urano se deita com a esposa, o jovem aparece subitamente, segura com a mão esquerda os órgãos sexuais do seu progenitor e... zás! Corta-os. Urano urra de dor, afasta-se da Terra e vai parar no alto, no teto do mundo, onde está até hoje.
Com esse gesto violento, Cronos abriu espaço entre o Céu e a Terra. É ali que vão crescer as plantas e viver os homens. Em seguida, Cronos arremessa o membro viril de seu pai no mar. O órgão passa um tempo boiando e o esperma se mistura lentamente com a espuma das ondas. Dessa mistura, nasce a mais bela das deusas: Afrodite, que os latinos irão chamar de Vênus. A cena foi retratada em um dos mais conhecidos quadros do pintor italiano Sandro Botticelli. Em seu, Nascimento de Vênus, a deusa parece sair de uma concha sob as ondas.
Mais tarde Zeus, filho de Cronos destrona o pai e vai morar no Olimpo ao lado de outros deuses. Os mais famosos eram 12, cada um deles com personalidade própria. Afrodite traiu seu marido coxo Hefesto com Ares, o deus da guerra. Uma das histórias que explica o aspecto coxo de Hefesto tem início no Olimpo, acima das nuvens. Hefesto era filho do poderoso Zeus e de sua esposa, Hera. Um dia, quando seus pais discutiam, tomou o partido da mãe. Erro! Zeus o pegou pelo pé e jogou violentamente para baixo. A viagem em queda livre durou um dia inteiro e acabou com uma aterrissagem forçada na Terra. O choque feriu a perna do deus para sempre e deixou Hefesto, além de feio e corno, também coxo.
Assim como Afrodite virou Vênus, outros deuses também ganharam novos nomes depois que a Grécia foi dominada por Roma. Hefesto tornou-se Vulcano e Ares Foi chamado de Marte. Palas Atena passou a ser conhecida como Minerva. Era a deusa da sabedoria, nascida da cabeça de Zeus. Dioniso (Baco para os romanos) era o deus do vinho, do transe alcoólico e do teatro. Preferia se divertir na Terra a permanecer no Olimpo. Eros (Cupido) distraía-se flechando os mortais. Hades (Plutão), irmão de Zeus, governava o mundo subterrâneo. Hera (Juno), a ciumenta esposa de Zeus, esforçou-se para punir as amantes de seu marido e seus filhos ilegítimos. Hermes (Mercúrio) era o mensageiro do Olimpo. Posêidon (Netuno) segurava um tridente e o estado das ondas dependia do seu humor. Havia ainda Apolo, que entre os romanos seguiu sendo chamado pelo mesmo nome. Ele era o certinho. E também o deus da adivinhação, da música e do céu azul.